quinta-feira, junho 05, 2008

Mundial de Râguebi

Mundial de Râguebi 2007-09-07 00:05

Selecção entra no negócio dos duros e defronta a Escócia

Primeiro jogo de Portugal é Domingo contra a Escócia. Segue-se a Nova zelândia.

Por Luís Neves Franco e Gonçalo Venâncio

O ‘e-mail’ chegou à federação em Junho, poucas semanas depois da vitória portuguesa por um ponto sobre o Uruguai. No remetente, o selo do IRS francês. No texto da mensagem, uma explicação pormenorizada sobre como deviam ser contabilizados os rendimentos dos jogadores durante a estadia em terras gaulesas. “Ficámos espantados, tal foi a surpresa”, confessa hoje os responsáveis da federação. “Não sabiam que éramos amadores”. A resposta seguiu foi pronta, curta e concisa: “Os nossos jogadores não recebem salários. Jogam por amor à camisola”. No domingo, três meses depois da carta que avisou o fisco francês do amadorismo nacional, Portugal deixa para trás as fragilidades financeiras. A selecção, composta por amadores, enfrenta a Escócia no seu primeiro embate do Grupo C. Para trás ficam quatro meses de treino com uma passagem pelos fuzileiros. E uma dieta que fez questão de colocar mais quatro ou cinco quilos nos ombros dos jogadores nacionais.

Durante esse período de estágio, os advogados, empresários e os jogadores semi-profissionais escolhidos que viajaram para Paris tiraram uma licença sem vencimento. “Chegámos a um acordo com os jogadores para que se pudessem dedicar em exclusivo à preparação para o Mundial” justifica o presidente da Federação Portuguesa de Râguebi, Dídio de Aguiar. Foi a primeira vez que a federação pagou a jogadores. Quanto? “Os valores variam, acrescenta. Mas ficam muito aquém do jogador que mais recebe neste campeonato - Matt Giteau, australiano, 75 mil euros por mês.

Para este Mundial, os “Lobos”, nome de código da selecção, levam mais de 470 mil euros, uma injecção suplementar para o orçamento da federação. Ao todo, o orçamento da federação ronda os 2,65 milhões de euros. Os principais financiadores foram o Instituto de Desporto de Portugal (IDP), com 210 mil euros, o Instituto de Turismo, com 40 mil euros, e o International Rugby Bureau (IRB), com 222 mil euros e o pagamento de todas as despesas do estágio de 10 dias no Canadá e da participação no Mundial, para além dos patrocinadores.

Este aumento deriva do crescimento das receitas provenientes dos patrocínios e do protocolo assinado com o IRB. Em termos percentuais, a comparticipação do IDP representava, em 2003, 95% do orçamento. Neste momento, este mesmo valor representa 50%, os patrocínios 25% e o IRB o restante. Apesar destes números terem duplicado nos últimos quatro anos, a realidade do râguebi nacional continua a anos-luz das outras equipas no Mundial. Em termos comparativos, o orçamento da federação nacional é mais pequeno do que uma equipa de râguebi da segunda divisão francesa.

Uma das principais fontes de receitas do râguebi noutros países, os direitos televisivos, é negada a esta modalidade em Portugal. “Desde o princípio, exceptuando o Mundial, todas as transmissões tinham que ser suportadas por nós. Quando contactámos a RTP2, que está supostamente aberta à sociedade civil, disseram-nos que tínhamos que pagar os custos de produção. Em Portugal tudo se paga”, criticou Rafael Valverde, que acumula a vice-presidência do BES Investimento com as funções na federação. “É estranho que a RTP, canal de serviço público, transmita todos os jogos de futebol de selecções AA, sub-21 e muitas vezes escalões mais baixos, e deixe o râguebi de fora. O ‘lobby’ do futebol é muito poderoso e obscurece muitos dos desportos ‘amadores’”, considera Jaime Carvalho, presidente da Secção de Râguebi da Associação Académica de Coimbra.

Outro problema é a falta de uma cultura desportiva em Portugal, o que dificulta a formação de atletas. “Em França, por um lado, temos as escolas que têm os alunos, por outro, as câmaras que têm as infra-estruturas, e, depois, os clubes que têm a parte técnica e de formação relativamente aos vários desportos. Para haver cultura desportiva é preciso que as pessoas façam desporto logo na escola”.

Nova CEO desde Maio

“O IRB, para além de querer uma maior profissionalização dos atletas, também quer, e apoia financeiramente, que a própria federação se profissionalize”, afirma Rafael Valverde. O primeiro passo para esta mudança foi dado com a contratação, em Maio, de uma CEO, Alda Borges Coelho, contratada à Jerónimo Martins. Um dos maiores problemas que os “funcionários têm é que os dirigentes estão num regime de ‘part-time’”, reconheceu o vice-presidente. Na lista dos sete elementos da direcção, todos exercem uma profissão, ocupando cargos de destaque na Galp, Somague, Tabaqueira, Dresdner e BES Investimento. O presidente é médico e acumula o cargo com a gestão de duas clínicas.

Além dos esforços para profissionalizar a estrutura, a ressaca do Mundial é um dos principais desafios. Espanha é o melhor exemplo.

A estreia no Campeonato do Mundo foi em 1999, e, passados 4 anos, estava a jogar no grupo C. Hoje estão apenas um lugar à frente de Portugal, depois do deserto de desinvestimento que foram os últimos anos. “Não tiraram vantagens nenhumas em participar no mundial”, salienta Rafael Valverde. Em termos financeiros, só é possível Portugal “ter sucesso se tivermos um apoio a médio prazo dos patrocinadores”.

Para isso tiveram o cuidado de negociar os contratos de patrocínio a quatro anos, acautelando um futuro que começa já este domingo. “Entramos preparados para morrer em campo”, dizia há poucos dias o capitão Vasco Uva. Contra Escócia, Itália e Nova Zelândia as hipóteses são poucas. Na federação sonha-se com um resultado mágico frente à Roménia, que alimente um negócios e o futuro de uma selecção que se lance este domingo no seu primeiro Mundial.

Oitocentos quilos de avançados

800 kg. È o peso conjunto dos oito avançados da equipa nacional, o que não os impede de correrem 100m em menos de 12 segundos. No 15 ideal destacam-se o capitão Vasco Uva e o “centro” Diogo Mateus. A grande questão é saber como se comportará uma equipa amadora numa modalidade onde, por regra, o mais forte ganha. Entre os opositores que a equipa nacional vai enfrentar, sobressai de imediato um colosso: a temida Nova Zelândia. A equipa número um do ‘ranking’ mundial, eterna favorita à conquista do ceptro, apenas venceu o campeonato na sua edição inaugural, em 1987. Fisicamente muito fortes, os míticos “All Blacks” imprimem um ritmo demolidor ao seu jogo. Dan Carter (1,79m e 92kg) é uma das vedetas de uma equipa que pode colocar facilmente dez dos seus jogadores no “15 de sonho” do Mundial. Neste contexto, o que será um bom resultado para Portugal? “Perder por menos de três dígitos”, afirma sem qualquer ilusão Dídio de Aguiar, presidente da Federação.Mas não é só a Nova Zelândia a impor respeito. Antes, na jornada inaugural do campeonato, Portugal vai encontrar a Escócia, um histórico do râguebi que teve uma participação decepcionante no último torneio das Seis Nações. Os actuais décimos primeiros classificados do ‘ranking’ são caracterizados pela sua fortíssima ponta avançada na qual se destaca Chris “Mossy” Paterson, um “chutador” temível de qualquer ponto do terreno. Os escoceses apontam para o segundo lugar do grupo, mas vão contar com a forte oposição da Itália. Donos de um râguebi elegante, ao melhor estilo latino, os “Azurri” contam nas suas fileiras com alguns jogadores argentinos e neozelandeses que acrescentam força ao seu jogo. Actualmente na nona posição do ‘ranking’, os italianos defrontaram os“Lobos” na fase de apuramento para este mundial. Resultado: 83-0 a favor dos “Azurri”.

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