terça-feira, agosto 19, 2008

Entrevista ao Professor Jorge Miranda - parte 3/3

"Se todos os Homens fossem homossexuais a humanidade acabava"

Quantos livros tem?
Nunca contei, mas são uns milhares. Estão dispersos entre a casa de Moledo (onde tenho praticamente só romances), as casas de Lisboa e de Braga e os gabinetes na Faculdade de Direito de Lisboa e da Universidade Católica. Às vezes perco-me.

Quantos fatos tem? E gravatas?
Poucos, só mesmo o indispensável. Tenho três para cada estação (Verão e Inverno) e um de meia estação. Quanto às gravatas não faço ideia, nunca as contei.

Dá importância ao que veste? Quem é que lhe escolhe a sua roupa?
Não dou muita importância, mas gosto de estar bem apresentado. Sou conservador no que visto. A minha mulher é a voz crítica.

Alguma vez tocou num cigarro?
Não. Aliás, sou um fundamentalista anti-tabagista. Uma vez, numa prova oral na faculdade, os alunos, que sabiam da minha posição, resolveram colocar um cinzeiro na minha secretária. Mal entrei na sala atirei-o pela janela.

Bebe?
Só vinho tinto às refeições, e pouco.

Tem ou teve vícios?
Só quem me rodeia é que o pode dizer.

Se um filho lhe dissesse que é gay ficaria chocado?
Tentaria compreender a questão e, naturalmente, respeitar a sua decisão. Consideraria que era algo natural e que não decorria de influências externas.

A questão dos casamentos homossexuais pontificou na campanha para o PSD. Qual a sua posição?
Sou absolutamente contra mas sou um acérrimo defensor da igualdade de direitos e de oportunidades. O casamento não tem que ser necessariamente para procriação, como disse a Drª. Manuela Ferreira Leite, mas é, por princípio, inclusive constitucional (conforme artigos 36º, 67º e 68º da Constituição da República Portuguesa, bem como no artigo 16º da Declaração Universal dos Direitos do Homem), uma união entre pessoas de sexo oposto com a potencialidade da procriação. Friso a “potencialidade”, porque não tem que ser obrigatoriamente.
Defendo também que os direitos afectos às uniões de facto, que está acessível aos casais homossexuais desde 2001, devem ser alargados, incluindo, por exemplo, os direitos de sucessão.
Agora, acho que não se deve chamar casamento ao que não é casamento. Por outro lado, se todos os Homens fossem homossexuais a humanidade acabava.
Em resumo, aquilo que defendo é:
- Não deve haver descriminação
- Admito a extensão do domínio da união de facto, acessível aos homossexuais
- Não admito o casamento entre homossexuais

O que acha da liberalização da venda de drogas?
Esse não é um tema sobre o qual tenha reflectido muito, mas sou contra a liberalização absoluta. Em relação a alguns tipos de drogas penso que seria possível. Considero que é fundamental acabar com o poder e a especulação dos traficantes.

O que acha mais perigoso, álcool em excesso ou drogas leves?
Obviamente, o álcool em excesso.

Considera-se um homem rico?
Sou um homem remediado. Vivo exclusivamente do meu trabalho. Para sobreviver tenho que dar aulas em duas universidades. O ordenado de professor catedrático na faculdade de Direito não é suficiente.

Quanto é que cobra por cada parecer?
Prefiro não dizer.

Quantos faz em média por ano?
Não muitos, nunca excede uma média de meia-dúzia por ano.

Costuma ser solicitado pelos grupos parlamentares?
Ocasionalmente, mas só pelos partidos do centro (PS e PSD). O BE, o PCP e o CDS nunca solicitam a minha opinião.

Sabe quanto dinheiro tem no banco?
Não faço ideia.

Em que é que investe o dinheiro?
Esta casa [da praia de Moledo] custou todas as minhas poupanças até 1986, quando foi construída. Era um grande sonho desde a minha infância. Quando vinha para cá com os meus pais ficávamos numa casa alugada e sempre quis ter uma casa para vir para cá sempre que quisesse. Nos anos 1980 lá consegui arranjar o terreno e um amigo meu que é arquitecto desenhou-me esta casa, que ficou concluída em 1986.
Gasto muito dinheiro em livros e gosto muito de viajar. As viagens aos congressos no Brasil são pagas pela organização, mas na Europa são mais controlados e normalmente tenho que pagar as viagens do meu bolso. São normalmente viagens para Itália, França, Suiça e Bélgica.
Em férias, adoro ir até Itália com a minha mulher. Tentamos ir lá uma vez por ano mas nem sempre é possível.

Tem quantas casas? E carros?
Tenho esta [de Moledo], uma em Braga, de família, e a de Benfica, em Lisboa.
Em relação a carros tenho apenas um Volkswaggen Passat com 11 anos e muitos quilómetros.

É uma pessoa modesta?
Prefiro um bom livro a um bom fato. Aliás, não tenho fato caros. Vou comprar os meus fatos quase todos à Alfaiataria Nunes Correia, na Rua Augusta.

Nota: Esta terceira e última parte da entrevista (publicada parcialmente na edição de 13 de Agosto de 2008 da revista SÁBADO) foi realizada na casa do constitucionalista em Moledo do Minho, a 9 de Agosto de 2008).

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